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Posted at — Jan 1, 0001

Livros que eu li"

Stoner

Terminei de ler em 2021, durante uma madrugada de junho em Morón. Vou lembrar desse livro por muito tempo, tantas cenas e descrições marcantes.

Senti que a idéia central do livro foi descrita muito sucintamente por Archer Sloane, professor de literatura inglesa de Stoner, durante uma conversa onde o aconselhava sobre sua decisão de se alistar para a primeira guerra mundial:

You must remember what you are and what you have chosen to become, and the significance of what you are doing. There are wars and defeats and victories of the human race that are not military and that are not recorded in the annals of history. Remember that while you’re trying to decide what to do.

Eu sorri ao ler a resposta de Stoner que é tão absurdamente relacionável no momento que estou vivendo, não sei quem eu sou, o que eu quero. Como decidir entre dois caminhos que irão, de formas distintas, mudar minha vida de forma tão radical?

He found the task of search his motives a difficult and slightly distasteful one; he felt that he had little to offer to himself and that there was little within him which he could find.

A Novela

Stoner conta a história de William Stoner, nascido e criado em uma simples família fazendeira na zona rural de Massachussets no início do século 20. Stoner passou a maioria da sua adolescência ajudando seu pai com as colheitas de suas terras, e quando atingiu a maioridade foi convidado para cursar Agronomia pela Universidade de Massachussets. Stoner é descrita como uma novela “acadêmica” devido em grande parte que acompanhamos a vida de Stoner que por sua vez é intimamente ligada a instituição universitária.

Foi escrita e publicado durante a década de 60 por John Williams, formado em Artes e acadêmico universitário e professor por profissão, sabiamente resolveu escrever um livro sobre uma realidade que lhe é extremamente familiar, e isso se manifesta na forma de detalhes extremamente relacionáveis sobre a vida universitária, as sensações de incerteza, descoberta, as relações entre alunos e professores, as burocracias e conflitos hierárquicos entre os funcionários da universidade, etc etc.

Mediocridade

O Livro começa de forma muito curiosa, onde logo no início já conta o desfecho da vida de Stoner: Morreu sem ter conquistado nada de notável, lembrado por poucos, tendo vivido uma vida bastante mundana e corriqueira. Quando eu li isso eu sabia que ia gostar do livro. A vida que eu vivo é bem similar, com poucas grandes emoções (positivas no caso, negativas tem um monte).

E pensei: Quem iria querer ler um livro sobre um homem supostamente tão desinteressante? - Senti um grande conforto em saber que uma vida tão simples como a de Stoner seria material de uma novela tão famosa e aclamada pelo mundo. O problema aqui seria se o autor romantizasse de mais o mundano, vendo uma beleza monumental e interminável em cada mínimo detalhe, a despeito da tristeza e sofrimento no mundo. Mas não é o caso, tragédias acontecessem amplamente no livro, e Williams martela bastante que na vida de Stoner nada parece dar muito certo. Mas mesmo com toda tristeza em perspectiva, ele retrata tão honestamente momentos da vida de Stoner, momentos simplissísimos como quando em que ele olha pela janela sem pensar em nada particular, descrita em lindos detalhes, parece que por um momento, o mundo inteiro para, e nada existe mais.

Onde só existe uma beleza que simplesmente existe e é informada não só pelo presente, mas pelo mundo inteiro, pelo contexto, das tragédias, das alegrias, e tudo se converge nesses momentos, onde alguma coisa se manifesta: algo que gosto de chamar de O Silêncio.

Um lindo exemplo de um natal em que Stoner passava acompanhado de sua filha:

They sat most of the day before the small tree, talked, and watched the lights twinkle on the ornaments and the tinsel wink from the dark green fir like buried fire.

Pode parecer uma passagem tão simples, mas em retrospecto, dado todo o contexto, a paz de estar ali naquele momento em silêncio me fez e ainda faz sentir algo muito profundo, algo que atinge a verdadeira essência do que é ser, seja lá o que isso queira dizer.

Fim

No fim 99,999% de nós vamos morrer desconhecidos, sem ter conquistado nada de especial, tendo nosso nome perpétuamente esquecido e perdido do universo tendo passado 1 ou 2 gerações. Stoner é um incrível testamento de como mesmo tendo completa ciência desse fato natural, existe significado em nossas vidas, mesmo que vamos ser todos esquecidos, mesmo quando somos covardes e poderíamos ter feito escolhas melhores ao confrontar as injustiças do mundo, vale a pena tentar, mas porque?

Stoner não responde diretamente, mas nos dá um retrato borrado da verdade através da experiência de um homem, um homem bem chato, com uma vida chata, mundana, muitas vezes fraco, covarde e cômodo, mas um homem que tentou, que mesmo sem saber o que queria, guiado por algum instinto estranho que nem ele mesmo sabia da onde vinha, fez aquilo que achava que deveria fazer, e no meio do caminho tropeçou em momentos de beleza e preenchimento.

Isso basta? Não sei, mas certamente foi uma linda história, por mais aparentemente insignificante que seja, ela significou tudo.