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Livros que eu li"

Morro dos Ventos Uivantes

Road to Wuthering Heights Painting by Alan Stuttle ( Link" )

Morro dos Ventos Uivantes foi a única novela escrita por Emily Jane Brontë, publicada em 1847.

Pensamentos

Terminei de ler esse livro em 2021 durante madrugada fria de maio no meu apartamento em Morón, Argentina.

No século 19 romances com essas visões absolutas e idealizantes de amor eram muito populares na Inglaterra. Parece que não mudou nada desde então, até hoje parece ser o caso, com a popularidade estrondoza de livros como “Cinquenta tons de cinza” e “Crepúsculo”. Curioso pensar que o público principal que consome esse tipo de livro são as mulheres. O que explica esse fenômeno é algo interessante: Em um vídeo que assisti no youtube de uma aula de Jordan Peterson que mencionava que o principal meio das mulheres fantasiarem e explorarem seus desejos carnais é através de leitura e a imaginação, enquanto homens preferem diretamente meios audiovisuais.

Intuitivamente isso faz muito sentido por alguma razão.

Violência

Morro dos Ventos Uivantes está muito longe de um romance idealizado, descrita por muitos como Gotica, é repleta de morte, tragédias e cenas de violência que incluem tanto abuso físico quanto psicológico. O que mais me chocou foi a crueldade dos personagens não na violência física mas no que submetiam os outros em termos do que poderia ser descrito como tortura psicológica.

O retrato da maldade nesse livro é um dos aspectos mais intrigantes devido a história de vida Emily Brontë, muito protegida por seus pais durante a sua vida de tudo o que poderia lhe fazer o mal. Ter um retrato tão vivo do que é a maldade de uma pessoa que aparentemente não a conhecia diretamente através de sua experiência de vida é muito curioso.

Paixão e Sofrimento

Uma conexão interessantíssima foi feita por amigo meu, que por serendipidade lia alguns textos do filósofo Bataille, que escreveu sobre a inerente associação entre a Violência e a Paixão, citando O Morro dos Ventos Uivantes como exemplo.

Quase todos os exemplos de amor retratados nesse livro são completamente dominados por paixões: Emily parece argumentar que o sofrimento e a ruína são diretamente proporcionais a força da paixão que sentimos. Personagens como Cathy I e Heathcliff são o supremo exemplo disso.

Cathy I, objeto de um grandiossíssimo amor apaixonado de Heathcliff, morre de algum tipo de doença ou delírio no meio do livro. Heathcliff então manifesta no mundo o retrato perfeito de um amor caído: Por conta da impossibilidade de estar com Catherine, ao invés de deixarla descansar em paz, em seu nome, Heathcliff embarca em um insano delírio de vingança contra aquele que acusa ser o culpado (Edgar Linton) pela loucura e eventual morte de sua amada, cometendo todo tipo de atrocidade e imoralidade contra Edgar e sua família.

Emily e Heathcliff

Heathcliff é retratado como um personagem enigmático e com jeito meio satânico, misterioso e maldoso durante todo o livro. Chega a ser meio exagerado na segunda metade, mas Emily faz um ótimo trabalho em justificar por que ele age de forma tão sociopática.

Heathcliff cresceu sem ser amado por outros. Suspeito que o Amor só pode existir em alguém quando entregue por um indivíduo que já o sentiu. O Amor de Heathcliff por Catherine se manifesta como uma paixão insolucionável, destruidora, que acaba matando os dois participantes e trazendo um mal enorme para todos que eram próximos. Heathcliff é uma verdadeira tragédia, sua criação não justifica seus atos, porém todos as figuras masculinas, paternas e femeninas disfuncionais com o qual tinha como exemplo enquanto crescia, são parte do que o moldou como homem e em parte responáveis pelo que aconteceu.

A história parece ser um forte argumento para o Amor, em sua expressão pura e verdadeira entre os humanos, como força construtiva. Emily parece ter se escrito em Heathcliff, suas descrevendo suas próprias incompetências e frustrações com sua vida familiar e falta de amor que provavelmente sentia, e de como isso viria a se manifestar no mundo.